A região de Salem era uma colônia britânica localizada ao norte de Boston e esse foi cenário de uma história curiosa e trágica. Entre 1691 e 1693, algumas jovens da comunidade religiosa apresentaram comportamentos estranhos: não conseguiam ficar em pé; apresentavam fala arrastada e desconexa; tinham alucinações, delírios, formigamentos, dores de cabeça e vertigens; ouviam zumbidos. Foram tratadas como bruxas e o governador William Phips criou uma corte para julgar os casos de bruxaria, formado por cinco juízes. Em 1692, eram contabilizados dezenove jovens executadas, quatro mortas na prisão e duzentas foram enjauladas.
Na década de 80, foi desvendado o mistério, os cientistas descobriram que o pão que era produzido com os grãos de centeio na época estavam contaminados pelo fungo ergot. Esse microorganismo produz uma toxina denominada isoergina, com efeito cerebral similar ao LSD. Os fatores climáticos favoreceram a proliferação do fungo: ocorreu um inverno rigoroso, que desencadeou um período de fome, em seguida houve uma primavera com intensas chuvas, o que inundou as plantações de centeio. O verão seguinte, muito quente, também contribuiu para a resistência do fungo contra as altas temperaturas.
Além disso, como os organismos das crianças e jovens absorvem nutrientes – e toxinas – com maior eficiência, o grupo foi mais acometido. Os fungos são popularmente conhecidos como leveduras, bolores, mofos, trufas, orelhas-de-pau e cogumelos. Muitas vezes estes microorganismos são lembrados por causarem pragas nas plantas e doenças aos seres humanos e animais, apesar disso, esses organismos possuem enorme importância ecológica, econômica e médica.
Alexandre Nunes é professor e biólogo