Depois de muita discussão, acidentes e incidentes de percurso, a reforma previdência, PEC-06, sai das comissões e passa a ser debatida, analisada e votada na instância máxima de deliberação da Câmara de Deputados, ou seja, o plenário.
A controversa reforma previdenciária possui dois discursos antagônicos e inconciliáveis.
O governo, “pai” da reforma, sustentou que a reforma é necessária por conta da manutenção de um equilíbrio fiscal e no combate aos privilégios.
Já a oposição defende a ideia de que a reforma é ruim para o Brasil, e que atingirá os mais pobres, sem, no entanto, apresentar alternativas, nem discutir de forma objetiva o déficit fiscal e previdenciário. Além de esboçar o discurso de que a aprovação da reforma da previdência, garantirá uma possível reeleição do atual presidente. E isso, a oposição não quer. É a briga pelo poder em detrimento do necessário.
No campo da política a situação nuclear imiscui-se em saber se existem votos ou não para a aprovação da reforma, e qual o custo político desses votos, lembrando que a proposta é de emenda à constituição, necessitando, desse modo, de 308 votos, três quintos dos deputados e deputadas, para sua aprovação em dois turnos de votações.
Depois de alguns atritos, desencontros e “caneladas” (governo e Rodrigo Maia), o grande articulador e fiador político da reforma da previdência é o Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, que assumiu o protagonismo da votação, colocando em risco seu capital político e habilidade de negociação junto à Câmara e o governo.
O cenário pré-votação oscila, e o governo conta hoje com aproximadamente 140 votos pró-reforma, faltando ainda negociar 168, sendo que destes votos se tem uma expectativa de 119 votos parciais (simpáticos à reforma) e 111 votos indefinidos. Votos contra a Emenda à Constituição da Previdência contam com a estimativa de 143.
A votação da reforma da previdência é histórica para o país e vital para o governo, que elegeu a reforma como “a mãe de todas as reformas”. O teste de fogo ao qual o governo será submetido deve ser um divisor de águas, estabelecendo qual a metodologia de tratamento entre Governo, Congresso e Centrão, podendo criar uma dependência do governo ao Presidente Rodrigo Maia, que,em caso de aprovação da reforma, terá sua atuação política colocada em um elevado patamar, diminuindo a importância e influência de membros do governo e de lideranças partidárias.
Ao que parece, o Centrão, a velha política e Rodrigo Maia vencerão, pois o governo, um dia antes da votação da Previdência, liberou mais de R$ 1 bi para de recursos do orçamento em emendas parlamentares, cuja aplicação é indicada por deputados e senadores, mostrando, de uma vez por todas, que a relação com o congresso se faz regrada pela via do dinheiro verde e amarelo e não pelos elevados sentimentos de patriotismo e interesse público.
Maquiavel, em seu manual edificador da ciência política, estabeleceu como premissa a ideia de que: “Não se afaste do bem, mas saiba valer-se do mal, se necessário.” E o Governo, para fazer o bem, na sua ótica, utilizou-se do mal, que na verdade é uma repetição do que todos os governos fizeram no passado, dinheiro na mão, voto sim ou voto não.
Ficamos em arremate com a frase clássica de Dante Alighieri, na Divina Comédia: “No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise.”