A soltura do ex-presidente Lula, no último dia 8 de novembro, trouxe um consenso para todos os que se dedicam à análise política: o ambiente de polarização com o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 vai voltar. Uma gangorra política, ideológica e polarizada ganha novo fôlego. De um lado, os bolsonarista e, do outro, o lulismo ou lulapetismo.
O estadista, filósofo, teórico político Edmund Burke, em seu panfleto intitulado ‘Reflexões sobre a revolução na França’, estabeleceu a premissa de que as paixões dos indivíduos não deviam ter relevância ao se fazer julgamentos políticos. O pensamento do irlandês, apesar de coerente e desejável, no Brasil contemporâneo é quase inaplicável, inexequível. As paixões produzidas por narrativas e retóricas gestadas na simplicidade de fake news, ou na exaltação ou indocilidade dos lados antagônicos, elegem o lado oposto como inimigo, inconciliável, reduzindo e empobrecendo o debate político.
A polarização sufoca o centro, ou seja, as vozes que buscam ver virtudes nos dois projetos de poder ao país não ganharam o espaço desejável e propício para se proliferarem. No Brasil, a atual cena política é ocupada pelas paixões idolatradas e messiânicas, Lula versus Bolsonaro.
A saída de Lula da prisão deve, em tese, reestruturar parte da esquerda sob sua liderança, impactando diretamente nas eleições municipais, principalmente no Nordeste, onde a liderança e influência do ex-presidente ainda se fazem muito forte. Do outro lado, o único ainda com fôlego, e militância política capaz de contrapor Lula, naturalmente, é o presidente Bolsonaro, que possui ao seu favor o cargo, e uma exposição midiática natural.
Os embates fraticidas já se iniciaram pessoalmente, mas, principalmente, à distância pelas mais diversas plataformas digitais de mídias sociais. Somos espectadores ou partícipes de cenas de animosidades inclinadas a posições extremas que afastam, em todo caso, parentes e amigos que pensam contrário, acirrando os ânimos e voltando a criar um ambiente de arenga, que deveria ter sido superado pela eleição de 2018.
Sem um nome de relevo que represente uma alternativa viável ao ambiente político intoxicado pela polarização Lula x Bolsonaro, os novos rumos da política podem sacrificar a agenda governamental, aumentando a divisão social, criando um ambiente político onde os mais rejeitados sejam os com mais ouvidos.
Veremos uma antropofagia política dos polos antagônicos, com potencialidade de radicalização de ambos os lados. Nada disso ajuda muito a democracia.
Liberar o antídoto da paz e do equilíbrio deve ser a tarefa de todos aqueles que não concordam com o ambiente de brios exaltados, e das inimizades íntimas com parentes e amigos, produzidas no calor do embate político.
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”1.