Será que estamos concentrando boa parte dos nutrientes indispensáveis ao funcionamento saudável do corpo no lixo produzido na elaboração de nossas refeições? De acordo com a Organização das Nações Unidos (ONU), pouco mais de 1 bilhão de toneladas de alimentos, ao ano, no mundo é perdido nos processos iniciais da cadeia produtiva alimentar. Isso corresponde a um terço de tudo que é produzido.
Por outro lado, 10% da população mundial passam fome e, aproximadamente 25%, possuem deficiência de micronutrientes. Ainda segundo dados da ONU, esse processo de perda e desperdício contribui com 8% a 10% da emissão de gases de efeito estufa produzidos pelos seres humanos, tornando, assim, um problema também de cunho ambiental.
Como a população pode fazer para contribuir para que esses dados diminuam? Para a nutricionista e professora do curso de Nutrição da Faculdade UNINASSAU Caruaru, Lilian de Lucena, é preciso compreender que o alimento pode ser utilizado em sua totalidade, não se limitando apenas a polpa de frutas e verduras, por exemplo, mas deve se estender ao consumo das cascas, entrecascas, sementes, folhas e talos.
A este processo de utilização do alimento em sua integralidade é chamado de Aproveitamento Integral dos Alimentos (AIA). “O AIA entra como uma ferramenta efetiva no que diz respeito ao aumento da densidade nutritiva de preparações consumidas diariamente pela população em geral, bem como uma estratégia eficiente de combate à fome no mundo. Além disso, reduz a quantidade de lixo produzida”, explica a docente.
A nutricionista ainda ressalta a importância da desmistificação de partes do alimento (cascas, entrecascas, sementes, folhas e talos) como “menos nobres” por meio de educação nutricional e políticas públicas que reforcem a importância da gama de benefícios de diversas esferas: nutricional, econômico, social e sustentável.
Por fim, a nutricionista dá dicas para a o aproveitamento integral dos alimentos:
– Talos de folhas em geral: Ricos em fibras, ferro, cálcio e vitamina C. Podem ser usados em patês, refogados, recheios (arroz, tortas), caldo de feijão e sopas, por exemplo;
– Folhas de cenoura: são fontes importantes de vitamina A. Indicadas para uso em bolinhos, sopas, e consumidas picadas ou refogadas;
– Casca de batata: Assada em fornos ou frita, serve como aperitivo, além de ser ótima na elaboração de hambúrgueres vegetarianos;
– Casca de laranja e tangerina: Se destacam por conterem fontes consideráveis de cálcio. A casca da tangerina, por sua vez, também é rica em zinco, que fortalece o sistema imunológico. Ambas, quando caramelizadas, servem como base para pratos doces;
– Entrecasca da melancia: Rica em fibras e potássio. Usada em pratos doces e salgados por terem sabor neutro.