Por sua neta, Hortênsia Nunes B. de Oliveira
José Carlos de Oliveira: se você mora em Caruaru-PE certamente já escutou esse nome. Tem rua, tem avenida e até bairro que leva o seu nome. Mas você já parou para pensar quem foi esse homem que se fez bairro?
José Carlos de Oliveira nasceu em 27 de maio de 1912 na antiga São Miguel, hoje Sairé, recebeu o nome de seu avô e era filho de Francisco Carlos de Oliveira, barbeiro, e Firma Maria do Nascimento, dona de casa. Nesta semana, Seu Zé Carlos estaria completando 109 anos de vida.
Quando eu nasci, ele inteirava seus oitenta, por isso minhas vivencias não foram tantas. Mas tal desencontro do destino não o tornou ausente, pelo contrário, acredito que o fez mais presente ante tantas as histórias, estórias e causos que nos foram contados e passados. O convívio sempre foi diário, seja por um ensinamento, uma piada, uma musiquinha, um sonho, ou até por ouvir seu nome no rádio.
Neste ano, por mais uma vez, com toda a certeza, ele seria reconhecido por sua jovialidade, simplicidade e ao mesmo tempo vaidade. Andava sempre elegante, sapato engraxado, relógio bem arrumado, gostava bastante de uma boa festa e de um carteado. E ainda, segundo ele, dançava bem que era danado.
Frequentou pouquíssimo a escola – o que não o fez menos estudioso -, cursando apenas o primário. Esta que ficava a uma légua e meia de sua casa, na época ele morava na zona rural de Sairé, distância que ele percorria andando e sozinho aos seis anos de idade. Plantou café, trabalhou na feira livre, vendeu tecido, montou sua loja de tecido em Bezerros (Casa Santa Terezinha), abriu sua filial em Caruaru, que depois se tornou o Armazém Norte e assim seguiu.
Ele saiu da Zona rural, quase não teve estudos, mas fez quase um tudo pra se tornar quem se tornou. “Um homem a frente do seu tempo” é como muitos, sem nem perguntar, o descrevem. Sempre foi muito audacioso, casou-se sem avisar a ninguém, pegou sua esposa- diga-se de passagem minha avó – e levou-a no cartório.
Também tinha a coragem como ponto forte; e a cabeça? Não tinha ninguém que o fizesse baixar. Era dinâmico e honesto, mas além de tudo um bom homem. Um bom homem não porque não mexia com ninguém, um bom homem porque fazia por vários alguéns, e por suas ações evidenciou ser um bom, excelente homem.
Em Caruaru, exerceu a função de presidente da Cooperativa de Melhoramentos de Caruaru Ltda, esta que detinha a concessão para a produção; distribuição e comércio de energia elétrica na cidade de Caruaru, pelo Decreto Federal nª 31,758/1952 de autoria do Presidente da República, Getúlio Vargas, e ainda foi Diretor do abrigo de menores.
Nesta cidade, a qual tomou-a como sua, em 25 de janeiro de 1983 “recebeu” o título de cidadão de Caruaru, quando então teve reconhecido os relevantes serviços prestados à “essa da terra gente”, por “ser gente da gente“. Também, em Caruaru, se consolidou como empresário graças a soma de seu perfil visionário e comercial. Entrou nos bastidores da política, que era o que mais adorava.
Foram tantos e tantos feitos que aqui não consigo de forma suscinta relatar. Sou uma de suas netas; filha do seu filho no qual o seu pai decidiu homenagear (Francisco Carlos de Oliveira, vulgo Chico Oliveira), e desta feita e nesta data sinto a necessidade e a vontade de lhe parabenizar. O senhor trabalhou por conta própria, não teve berço e tornou-se uma pessoa admirável, não pelo que constituiu materialmente, mas pelo que pôde nos passar. Foram princípios e valores que nenhum dinheiro pode pagar, até porque este só serve pra “gastar e passar troco”, não é?