Cianobactérias: importância e tragédias
O termo “cianobactérias” significa “bactérias azuis”, ou seja, são microorganismos que fazem parte do mesmo reino das Bactérias, o Reino Monera. Antigamente, de forma inadequada, eram enquadradas como algas e chamadas de Algas Azuis ou cianofíceas. Podem ter diferentes cores, desde o verde-azulado até o marrom-avermelhado. Encontramos em temperaturas extremas, desde as geleiras da Antártica até fontes termais com 80º C (termofílicas); em todos os ambientes do ecossistema, no solo, no ambiente marinho e principalmente na água doce. Outras podem viver em associação íntima com protozoários, fungos e plantas verdes. No Mar Vermelho, localizado entre a Arábia Saudita e a costa Oriental da África, há uma extraordinária abundância de cianobactérias que possuem um pigmento predominante de cor vermelha em suas células. As cianobactérias, juntamente com as algas e plantas verdes, são os organismos geradores de oxigênio e são responsáveis pela produção de quase todo o oxigênio na atmosfera terrestre. Uma outra função importante é a fixação do nitrogênio atmosférico nas plantações de arroz; a água em que os pés de arroz crescem (lugares brejosos) fica repleta de cianobactérias, que absorvem o nitrogênio que será transformado em fertilizante. Também desempenham papel-chave na transformação das rochas em solo.
Mas um dos problemas é que em condições ideais, como os corpos hídricos (açude, barreiro, rio com pouca correnteza, poços e outros) com pouca água, temperaturas elevadas, com disponibilidade de luz e de material orgânico, como por exemplo o esgoto, elas se reproduzem de maneira exagerada, causando as famosas florações. Percebemos pela água esverdeada, mas nem sempre este fenômeno é exclusivo das cianobactérias. Quando estão presentes em grande número, elas modificam a aparência e a qualidade da água, por produzirem toxinas, odor e sabor característicos de geosmina, substância química liberada por algumas espécies e que proporciona o que popularmente se conhece “por cheiro ou gosto de terra” e uma espuma densa de cor verde-azulada na superfície da água. Dos aproximados 150 gêneros, apenas 40 estão relacionados com a produção de algum tipo de toxina. As cianotoxinas podem ser classificadas de acordo com a sua ação em neurotoxinas, hepatotoxinas e dermotoxinas. Beber água com cianobactérias tóxicas podem provocar náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréias, complicações no fígado e fraqueza muscular. É necessário procurar assistência médica. Em Fevereiro de 1996, a nossa cidade infelizmente ficou conhecida internacionalmente pela Tragédia da Hemodiálise – em que 60 pacientes perderam suas vidas em decorrência da contaminação da água utilizada no processo de hemodiálise pelas cianobactérias que produziram uma toxina denominada microcistina LR.
Pesquisas mostram que o consumo desta água pode potencializar o vírus da Zika, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, e ocasionar a microcefalia. As possíveis soluções para minimizar estes problemas são a informação e o conhecimento para a população, o tratamento adequado da água, a preservação das nascentes, o tratamento do esgoto, a arborização, o descarte do lixo de forma adequada, a eliminação de todos os criadouros de mosquitos e tratamento adotado por algumas empresas de abastecimento para eliminar da água as cianobactérias e as cianotoxinas – como a flotação e o uso de carvão ativado, obtendo um bom resultado. Não eliminamos as toxinas por fervura ou desinfetantes caseiros.
A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.
Guimarães Rosa