No último dia 11, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública para tratar dos transtornos mentais entre jovens, considerando o impacto da pandemia da Covid-19. O evento reuniu especialistas como Luciana Barrancos, do Instituto Cactus, Laura dos Santos Boeira, do Instituto Veredas, Carolina Campos, do Vozes da Educação, e Matias Mrejen, do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde.
Em suas apresentações,elas destacaram, especialmente o fato de que nos momentos que a pandemia piorou, aumentou o número de pessoas reportando sintomas de ansiedade e depressão. E especialmente os jovens estão adoecendo. Temos uma explosão de casos de automutilação e violência nas escolas. Este não é um fenômeno isolado.
De acordo com o relatório Atlas das Juventudes (realizado pelas redes de organizações Em Movimento e Pacto das Juventudes pelos ODS), baseado numa escuta com mais de 100 mil estudantes ao longo da pandemia, o cenário preocupa: 6 a cada 10 jovens relatam ansiedade e uso exagerado de redes sociais; 5 a cada 10 sentem exaustão ou cansaço constante; e 4 a cada 10 têm insônia ou tiveram distúrbios de peso.
É preocupante que 48% dos jovens solicitaram atendimento psicológico especializado em juventude na saúde e 37% demandaram acompanhamento psicológico nas escolas em 2021. Somado a isso, foi apresentado uma evidência de que a evasão escolar de estudantes com problemas de saúde mental chegava a 43% a 86% nos Estados Unidos. Isso torna urgente que os gestores públicos olhem para este tema nos próximos anos.
Pensando em soluções, os participantes trouxeram aprendizados importantes, que gostaria de compartilhar com vocês:
● Monitorar o público das crianças e adolescentes, por meio de políticas específicas e da participação desse público no debate e formulação de políticas públicas
● Garantir intervenções efetivas, com atenção individualizada, variedade de materiais, leituras interativas, e salas de aula organizadas;
● Fortalecer políticas baseadas na intersetorialidade, envolvendo a Assistência Social, Saúde,com estrutura para encaminhamentos de casos;
● Considerando que estamos lidando com o bem estar e saúde mental escolar, é imperativo a contratação de psicólogos e assistentes sociais para atuarem diretamente nas escolas.
● Garantir um olhar “global” para a escola, comunidade escolar, pais, funcionários, direção
Apesar da preocupação, a boa notícia é que encontramos no Brasil alguns casos de sucesso que podem inspirar os legisladores e políticos nos próximos anos. O estudo do Vozes da Educação, intitulado Levantamento Internacional de Boas Práticas de Saúde Mental Escolar, aponta para boas práticas de políticas de apoio à saúde mental em cidades como Caruaru-PE, Mogi das Cruzes-SP, Londrina-PR e na Secretaria Estadual de Educação do Ceará.
O próximo passo é que os gestores coloquem a mão na massa e a saúde emocional da juventude brasileira no centro das políticas públicas educacionais brasileiras.
João Paulo Cêpa é
consultor e especialista educacional e ex-secretário de Educação de Caruaru-PE
@joaopaulo_cepa (instagram)