Durante 19 anos o caruaruense João Condé publicou uma coluna na revista “O Cruzeiro” denominada de “Arquivos Implacáveis”, coluna essa por ele já publicada anteriormente, nos anos 40, no jornal “A Manhã”, no suplemento “Letras e Artes”.
A coluna era um grande sucesso no meio intelectual e era constituída de depoimentos de escritores, divulgação de obras e curiosidades e doses de humor como as biografias divertidas de autores da seção “Flash”.
A coluna foi “batizada” pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, amigo de Condé, que escreveu: “Se um dia eu rasgasse meus versos, por desencanto ou nojo da poesia, não estaria certo da sua extinção: restariam os Arquivos Implacáveis de João Condé”.
Drummond estava coberto de razão. Durante cerca de 40 anos Condé colecionou um inacreditável conjunto de registros documentais do que há de mais precioso no universo da literatura brasileira. Milhares de cartas, bilhetes, depoimentos, fotografias, caricaturas e manuscritos, como os originais de “Fogo Morto”, de José Lins do Rêgo; “Estrela da Manhã”, de Manuel Bandeira, e “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, dentre outros.
Os “Arquivos” foram reunidos por Condé geralmente através de doações de amigos (no entanto, o voraz colecionador não hesitou ao infringir o Código Penal Brasileiro quando literalmente furtou alguns dos itens, confessando abertamente depois, divertindo-se e sem o menor constrangimento).
Além da coluna e da coleção invejável, Condé também chegou a estrelar, em 1956, um programa na extinta TV Tupi: “Os Arquivos Implacáveis na TV”, onde entrevistava autores e tecia comentários sobre suas obras.
Condé também era editor e publicou quatro livros impecavelmente ilustrados por artistas como Portinari e Santa Rosa:
“10 Poemas Manuscritos”, de Drummond, Vinicius de Moraes, Cecília Meirelles, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge de Lima e Murilo Mendes; “Assombrações do Recife Velho”, de Gilberto Freyre; “10 Histórias de Bichos”, de Drummond, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, entre outros; e “10 Romancistas Falam de Seus Personagens”, com textos de Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e Jorge Amado, dentre outros.
Após a morte de João Condé, seus arquivos ficaram de posse dos filhos. Ao que consta, foram adquiridos por uma instituição. Espero que estejam bem conservados e preservados, para o bem da memória nacional.