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Amar Demais, por Fabrício Carpinejar
Amar demais não é crime. Amar demais não é doença. Amar demais não é pecado.
Amar demais não é um atentado. Amar demais não é desespero. Amar demais não é carência.
Amar demais não é um abuso.
Amar demais não é uma violência. Amar demais não é um desequilíbrio.
Amar demais é amar. É estar amando um pouco mais do que ontem e um pouco mais do que hoje e um pouco mais porque a memória se espalha na imaginação e o desejo não tem cura.
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Não existe amor demais, existe amor de menos, existe desamor.
Não existe amor demais, existe amor necessário, amor essencial, amor crescendo.
Não existe amor demais, existe amor e ponto. Amor com sua lógica incoerente, seu pulmão de coração, sua febre ansiosa.
Amar demais é amar sofrendo como todos que amam. É amar inseguro como todos que amam. É amar desconhecendo as fronteiras como todos que caminham com a boca.
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Amar não tem régua de abraço, não tem bafômetro de beijo. Não há como dizer que um ama mais do que o outro, ou que um ama pelo outro.
Os amores se misturam quando se ama. Os amores não param de se transferir. Os amores não cessam de recomeçar.
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O amor é uma saudade que não se contenta em chegar. É — ao mesmo tempo — o medo de não ser mais ninguém e a alegria de ser tudo.
O amor não é um gesto isolado, impreciso, parado. É um gesto contínuo.
Amor é velocidade. Não conheço jeito de fotografar o amor, e definir: — Este é o seu tamanho!
Amor é desobediência. Não conheço jeito de estancar o amor, e declarar: — Este é o seu limite!
Amar demais é amar correndo com o batimento. É jurar que o mundo vai terminar se o amor terminar. É querer morrer de tanto viver. É nascer brigando e dormir beijando.
É amor, e deu, não inventaram modo mais calmo, versão reduzida, plano controlado.
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Amor é uma paz ensandecida, uma guerra calma, uma curiosidade insaciável.
Amar demais não deveria assustar. É como impor cor ao crepúsculo, intimidar a mancha luminosa da lua, censurar um pássaro no alvorecer, trancar o rebanho de estrelas no estábulo de uma nuvem.
Amar demais é querer mais do mesmo amor, é se fartar e sempre faltar, é encontrar procurando, é achar se perdendo, é abençoar amaldiçoando.
Amar demais não tem uma imagem tranquilizadora, um objetivo, uma linha de chegada.
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Amar demais não tem controle, pedágio, fiscalização. É realmente assustador. É realmente terrível.
Amar é demonstrar e não se contentar, é repetir e ainda ser inédito, é se arrepender já em pensamento.
Amar é escolher e não se acomodar, é cumprimentar uma vez e jamais se despedir.
Não há amor errado, mas amor aprendendo.
Não há amor demais. É amar como nunca antes. É amar transbordando vento e virando caminho.
Amar demais é amar. Será doação, entrega, não se controla o que foi oferecido, não se cobra de volta.
Se alguém diz que você ama demais, peça uma carta de recomendação.