Presença forte no Nordeste do Brasil, o São João é uma importante festa que movimenta economicamente o Estado de Pernambuco, através de setores, como comércio e serviços. A secretaria de Turismo de Pernambuco anunciou que este ano a receita turística da festa no Estado deve superar a de 2018, que foi de R$ 346,5 milhões. E o investimento em atrações artísticas para o Estado está sendo discutido pelos órgãos do Governo, mas deve ser em torno de R$ 8 milhões, mesmo valor destinado no ano passado. Além disso, o Governo espera ultrapassar a taxa de ocupação hoteleira, que em 2018 foi de 72,9%.
Pelo Brasil, a festividade acontece em diversas cidades. Como nem todas denominam São João, o Ministério do Turismo informou que no Calendário Nacional de Eventos do órgão, já existem 103 eventos cadastrados com esse perfil, em 15 estados do País. Para apoiar a realização desses vários festejos juninos, o Ministério vai investir, neste ano, R$ 4,5 milhões. Com isso, também deve ultrapassar os R$ 4,2 milhões investidos nos eventos juninos de 2018.
Para Rafael Ramos, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), o São João move uma cadeia muito grande de transporte, infraestrutura, vestuário, e alimentação e bebidas. “De acordo com o levantamento do IBGE, junho e dezembro em Pernambuco são quando acontecem os maiores volumes de venda no setor de vestuário, calçados e acessórios. Ou seja, é uma das datas mais importantes para o Estado. Além disso, há uma demanda grande de turistas, principalmente do Sudeste, o que gera renda para o Nordeste”, explicou Ramos.
Na avaliação do secretário de Turismo de Pernambuco, Rodrigo Novaes, a expectativa para este ano é otimista. “Temos boas estimativas diante da força da nossa cultura aliada à condição de novos voos que foram conquistados pelo Recife. Nossa expectativa é superar os valores do ano passado”, defendeu Novaes.
E para fazer a festa e conseguir movimentar uma boa economia em Pernambuco, o envolvimento dos diversos setores é intenso, principalmente no mês de junho. No segmento do comércio, o Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa-PE) deve vender mais quantidade de milho este ano comparado ao ano passado.
“O mês de junho tem uma sazonalidade plena. Esperamos comercializar em torno de 13 milhões de espigas este ano, ainda maior que o ano passado, que foram 12 milhões de espigas. E o movimento mais forte é na segunda quinzena de junho”, explicou o Chefe do Setor de Informações e Mercado Agrícola do Ceasa, Marcos Barros, ao informar que, no período junino, a quantidade de milho comercializada corresponde a mesma dos outros meses do ano. Os preços da mão de milho apresentaram uma queda de 20% em relação a 2018, sendo comercializada por R$ 25, aproximadamente.
Comerciante de lanches, Silvana Freire aproveita esse período para incrementar as vendas com comidas típicas nordestinas na sua lanchonete, chamada Café Intervalo, que fica na Galeria Capunga, no bairro das Graças, Recife. Mas não só isso: ela aproveita para comercializar por encomenda e em outro estande montado também na galeria. Por isso, nos meses de maio e junho, ela tem um aumento de 60% nas vendas. “É uma forma da gente explorar mais as comidas da nossa região, é uma época que as pessoas valorizam e consomem mais comidas de milho. Consigo aumentar meu faturamento em torno de 40%”, contou Silvana, que vende produtos, como bolo de milho, pé-de-moleque, pamonha e canjica.
No campo dos serviços, o São João é uma época que tem uma preparação prévia e durante o festejo. E é o que acontece com costureiros que fazem roupas para quadrilhas juninas. O costureiro Everson Mendes está nos preparativos confeccionando 58 peças para a quadrilha Lumiar, da qual também é integrante. “As costuras começam após o Carnaval, geralmente. Ano passado ganhei cerca de R$ 7,2 mil costurando indumentárias do São João”, contou Mendes, que cobra entre R$ 125 a R$ 350 por peça. “É gratificante porque vivencio o espetáculo da quadrilha junina e também faço a confecção das roupas”, complementou.
Presidente da quadrilha junina Lumiar, Fábio Andrade garante que o período junino gera emprego e renda dentro da própria equipe. “Antes a gente contratava costureiros externos, e hoje optamos por contratar profissionais de costura que participam da própria quadrilha. Isso faz com que eles ganhem um extra financeiramente”, contou Andrade. A Lumiar, por exemplo, arrecada recursos com festas e eventos para cobrir as despesas com as apresentações. “Em média, a Lumiar gasta R$ 8 mil por apresentação, com efeitos especiais, iluminação e transporte”, disse Andrade.
De maio até a metade de julho, a agenda do grupo de forró Baião Interativo fica bastante movimentada. É o período em que eles conseguem ter o maior faturamento, pois a demanda chega a ser entre dois a três festas por dia. “Fora da época do São João, fazemos festas uma a duas vezes por mês. Essa época para os músicos de forró é maravilhosa, tiramos o maior faturamento do ano. Nosso faturamento chega a aumentar 70%. E o valor do cachê é entre duas a três vezes maior que em outras épocas do ano”, comentou Tacio Ferraz, sanfoneiro do Baião Interativo, que ainda é formado por Adálio, Corró e D’Ângelo.
Movimento é ampliado no interior do Estado
No São João, a movimentação econômica é realizada em diversas partes do território pernambucano. Cidades do interior do Estado são reforçadas, tanto na sua infraestrutura, como serviços de saúde e segurança, para oferecer ao público uma festa brilhante. A força do interior é demonstrada por municípios como Caruaru e Gravatá, no Agreste, e Arcoverde e Petrolina, no Sertão.
“Esse é o momento em que as pessoas procuram muito o interior. Muitas pessoas que moram na Região Metropolitana do Recife aproveitam a festa no interior”, disse o secretário de Turismo do Estado, Rodrigo Novaes, ao acrescentar que as festas são feitas com a captação de recursos do governo, dos municípios e de iniciativa privada.
Apenas em Caruaru, principal e maior polo do São João de Pernambuco, a previsão é receber um público, durante o festejo junino, de aproximadamente 2 milhões de pessoas, superando os 1,8 milhões de pessoas do ano passado. Para isso, o investimento deve ser em torno de R$ 13 milhões, sendo a maior parte da captação desses recursos através de empresas patrocinadoras do evento.
“Para Caruaru, circula mais dinheiro no comércio na época do São João do que no período do Natal. Temos a expectativa de uma movimentação econômica na cidade de R$ 200 milhões, com implementação no turismo, comércio e indústria, ultrapassando os R$ 190 milhões de 2018”, explicou o presidente da Fundação de Cultura e Turismo da Prefeitura de Caruaru, Rubens Júnior. O período junino na cidade acontece de 18 de maio a 30 de junho.
Em Arcoverde, no Sertão, o São João tem crescido bastante desde 2013. Este ano, serão nove dias de festas, de 21 a 29 de junho, em dez polos espalhados pela cidade. A previsão é que Arcoverde receba 60 mil pessoas por dia, com um impacto econômico em torno de R$ 30 milhões no mês de junho. “Os recursos aplicados para a realização da festa serão entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões, sendo 50% de investimento da Prefeitura e os outros 50% do Governo do Estado e de parceiros da iniciativa privada”, informou o secretário de Turismo e Evento de Arcoverde, Alberico Pacheco. A taxa de ocupação hoteleira nos fins de semana da festividade devem atingir 100%. “São 1200 leitos oferecidos na rede hoteleira, além de mais de 300 imóveis que foram alugados para o período”, complementou Pacheco.