A delação premiada, ou acordo de colaboração, trouxe a possibilidade de se conceder benefícios àqueles acusados que cooperam com a investigação. E nas últimas semanas ganhou um novo capítulo, agora nos céus.
Um dos donos da Gol Linhas Aéreas, Henrique Constantino, afirmou, em delação premiada, que teve pedidos de propinas no valor de R$ 10 milhões, feitas por Michel Temer, então vice-presidente, e dos deputados Eduardo Cunha (MDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (MDB-RN).
São citados também como recebedores de valores da Abear, o ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), o ex-deputado Vicente Cândido (PT-SP), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), além de Marco Maia, Edinho Araújo, Otávio Leite, Bruno Araújo, Rodrigo Maia e outros. O objetivo era atender interesses da empresa no trato com a Caixa Econômica Federal.
No Brasil existe uma cultura histórica de privatização do espaço público. Não é só no ambiente político em que se vive esse fenômeno, de que se não tem dono, ou se o dono é o estado, se é público é meu. É o caso clássico de pessoas que fazem a seguinte intelecção: de quem é o que é público? É do povo, então se é do povo, é meu, pois eu sou o povo!
Variações piores são vividas nesse trato entre público privado. Questões relacionadas à impunidade, índole dos envolvidos e relação espúria dão a tônica de como no Brasil há uma privatização quase que informal, ilegal do que é público.
Um flanelinha, que ocupa um espaço, e me diz que as vagas são dele e que “o senhor passou muito tempo me dando um prejuízo”. Ou ainda uma churrasqueia pertencente a um restaurante, colocada na calçada, no passeio público, havendo, pois, uma apropriação de um daquilo que era público. Esses exemplos são dimensões de uma mesma história, muitas vezes já contada.
Cabe ao Judiciário, respeitando o contraditório, a ampla defesa, apurar os fatos indicados nas delações premiadas.
Em uma frase que já virou clássica, cunhada pelo professor Leandro Karnal, encontramos a seguinte declaração: “Não existe país com governo corrupto e população honesta”