Um estudo do Covid-19 Analytics, grupo de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro(PUC-Rio), aponta que Pernambuco é o estado que se mantém há mais dias com baixa taxa de contágio da doença provocada pelo novo coronavírus. Divulgado ontem (16) pelo governo pernambucano, o trabalho revela que o estado está há 19 dias com a taxa de contágio abaixo de 1.
Isso, segundo a pesquisa, mostra uma tendência de estabilização nos casos. Para o governo, os dados apontam para os bons resultados das restrições adotadas desde março. Mesmo assim, autoridades de saúde alertam que não é possível comemorar nem relaxar as medidas de segurança.
“Não existe mágica. Os dados mostram que o pico passou, mas as pessoas devem entender que é preciso aprender a andar para frente e dar passos para trás, se for preciso”, afirmou o infectologista Demétrius Montenegro, que atua, desde o início da pandemia, na elaboração de estudos e ações no Com o estudo, o Covid-19 Analytics mostra a situação em Pernambuco, levando em conta o número de pessoas para qual cada paciente infectado transmite a doença. A taxa de contágio, verificada até a segunda-feira (15), era de 0,87.
Ainda de acordo com o grupo da PUC-Rio e instituições parceiras, esse indicador aponta para quantas pessoas cada infectado transmite a doença. “Quanto mais alto o valor, maior a velocidade de transmissão e maior o risco de uma possível sobrecarga no sistema de saúde”, explicou o estudo.
Os pesquisadores afirmaram que, em todo mundo, há um entendimento de que as medidas de restrição e isolamento social só podem ser relaxadas, sem risco para o sistema de saúde, se este número estiver abaixo de 1.
Segundo o Covid-19 Analytics, as taxas são calculadas a partir dos dados de casos e mortes divulgados diariamente. Ainda de acordo com o grupo, as análises “se tornam mais confiáveis conforme a região se estabiliza em uma determinada faixa de número de reprodução por muitos dias”.
No país, de acordo com o trabalho, dez estados estão na faixa abaixo de 1. O estudo informou que três deles mantêm essa tendência há mais de dez dias.
Veja estados e número de dias com taxa de transmissão menor do que 1
- Pernambuco – 19 dias
- Acre – 15 dias
- Amazonas – 14 dias
- Rio de Janeiro – 8 dias
- Rio Grande do Sul – 7 dias
- Santa Catarina – 7 dias
- Ceará – 6 dias
- Tocantins – 6 dias
- Maranhão – 4 dias
- Roraima – 3 dias
Outros 15 estados estão na faixa intermediária, segundo o estudo. Eles apresentam taxas entre 1 e abaixo de 1,5. Duas unidades da federação têm taxa a partir de 1,5.
O estudo foi elaborado com informações consolidadas até a segunda (15). Os dados, segundo o Governo de Pernambuco, refletem as medidas restritivas adotadas, incluindo a quarentena com regras mais rígidas, em cinco cidades do Grande Recife, entre os dias 16 e 31 de maio.
Além disso, segundo o estado, o processo de reabertura da economia, iniciado em 8 de junho, “vem sendo realizado de forma gradual”.
Ainda de acordo com o secretário, o estudo reforça a tendência de redução de casos graves da Covid-19 e queda nas solicitações e nas taxas de ocupação dos leitos de terapia intensiva. Segundo Longo, não é momento de comemorar nem relaxar. “É necessário manter todas as medidas de higiene e segurança, continuar com o isolamento social e usando máscaras quando for necessário sair de casa”, declarou.
Para Demétrius Montenegro, a pesquisa aponta para o “bom resultado das ações desenvolvidas pelo governo”. “São números importantes, que mostram o êxito das determinações de restrição. É uma consequência do sacrifício da população”, disse o infectologista.
Também de acordo com o especialista, os dados das semanas epidemiológicas apontam para a tendência de controle do número de casos.
“Os próximos dias serão muito importantes para a gente avaliar o processo de reabertura. Desde o início, o governo alertou que, se for preciso, se os dados piorarem, pode ser que tenhamos de voltar a ter restrições”, afirmou.
Alerta
O professor Jones Albuquerque, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), alerta que os dados do estudo não permitem comemorações. “Não podemos relaxar. Os números estão no limiar”, declarou o especialista, que atua no Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika).
Ferramenta
A ideia dos professores da PUC-Rio foi criar uma ferramenta de apoio ao gerenciamento da crise na saúde pelas autoridades responsáveis. Assim, eles construíram um modelo de previsão do número de casos e mortes por Covid-19 no Brasil.
Os professores, dos departamentos de engenharias elétrica e industrial, além de economia, possuem artigos quantitativos em diversas áreas publicados em revistas internacionais, além de experiência na construção e implementação prática de modelos preditivos para empresas de diversos setores, por meio de laboratórios.
O modelo, que é dirigido apenas por dados, estima uma relação entre o Brasil e países que foram afetados pela pandemia em um período anterior.
Segundo o grupo, “o uso deste modelo é complementar ao uso de modelos epidemiológicos, que são difíceis de disciplinar quantitativamente por se tratar de uma doença nova, cuja comunidade científica ainda possui pouco conhecimento”.
Ainda de acordo com a apresentação da ferramenta, “o modelo fornece a previsão da evolução do número total de casos reportados, número de novos casos, assim como a taxa de crescimento. Além das previsões pontuais, baseadas em médias, o modelo também informa um intervalo de confiança de 95%, que leva em conta o risco decorrente do erro de previsão”.
Pernambuco tem 3.959 mortes e 46.427 casos de Covid-19